segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Credo

Penso (ou sinto) muito como o Poeta Mário Quintana, que me encanta com sua poesia; esta é atribuída a ele:

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A criança doente, parte I

Talvez em poucos momentos a medicina requeira tanta observação, intuição, experiência e instinto quando diante de uma criança que se aparenta enferma. Li certa vez que a Pediatria e a Medicina Veterinária se assemelham, neste ponto: 1) ambas trabalham com indivíduos que não manifestam verbalmente seus desconfortos; 2) tanto crianças como animais doentes recusam-se a comer, ficam "abatidinhos", dependem de outros para o atendimento de suas necessidades e, quando doentes, preferem ficar quietos e sós. Neste sentido, o papel dos pais é essencial: há um dito de Auguste Bier (1861-1949) que diz que "uma mãe esperta frequentemente faz um melhor diagnóstico do que um médico ruim".

De fato, talvez 70 a 80% dos diagnósticos em Pediatria são feitos baseados na história trazida pelos pais. Fortunadamente, a grande maioria dos pais - particularmente a mãe - é um bom termômetro do bem-estar de seus filhos - se o profissional for capaz de ouvi-los.

Entretanto, existem sinais que orientam a decisão quanto à gravidade do adoecimento de uma criança, e precisam ser considerados, por pais e pediatras:
  • Choro agudo, constante (sugere dor);
  • Alternância entre sonolência, sedação e irritabilidade;
  • Convulsão;
  • Recusa a se alimentar ("recusa" quer dizer, não aceitar absolutamente nada), por três ou mais ofertas;
  • Vômitos repetidos;
  • Dificuldade de respirar e frequência respiratória muito elevada (principalmente quando o nariz não está obstruído).
Costumo dizer para as pessoas que atendo que o estado geral da criança é o melhor indicador de que ela está bem ou não. Uma criança com febre que fica abatida, mas que volta a brincar, a comer e fica alegre quando a febre cessa, tem muito menos risco de ter um problema mais sério, especialmente se essa febre a incomoda há menos de 2-3 dias.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Relações entre pais e profissionais


Na semana que passou tive a oportunidade de vivenciar uma experiência rara e preciosa para a vida de um profissional: uma devolutiva de um casal acerca de minha conduta profissional. Eu acompanhava este casal e seus filhos há muitos anos, tínhamos uma boa relação, e nos últimos 12 meses esta família estava sendo atendida por outro pediatra.

O dia-a-dia de um pediatra é tão atarantado que um desgarramento desta natureza nem sempre é percebido de forma clara. O convívio deixa de existir, mas é muito difícil para quem atende mais de uma centena de crianças por semana reconhecer que uma em especial deixa de retornar, e não raro a "descoberta" ocorre por acaso, quando outro paciente comenta a situação, quando se encontra o paciente fora do consultório, ou simplesmente quando se apercebe que aquela família deixa de manter contato.

Pois bem: este casal deixou de manter contato por um ano, mas retornou na semana passada. E a conversa que abriu a consulta foi repleta de significado: as dificuldades na sala de espera às vezes congestionada, problemas com horários, desacordos com condutas... Entretanto, os pais relataram que não conseguiram construir um vínculo com outros profissionais - e foram muitos, segundo eles - tão significante quanto aquele que tínhamos, o que os impeliu a retornar à minha clínica.

Apesar de comentar que estava - e estou - muito feliz com o regresso, o que mais me impactou foi a sinceridade e cordialidade do casal em me apontar necessidades de desenvolvimento da clínica e de minha prática, sob seus pontos de vista. A cristalina preocupação com a melhoria do desempenho do profissional, o interesse na mudança e a genuína expressão da crítica construtiva me encantaram e tiveram grande repercussão na forma como encaro o consultório e meus clientes.

Que bom seria se as relações entre os pais e os profissionais de saúde fossem regidas por tais princípios!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

"Fantasmas da criação"


Outro dia conversava com um casal que tinha acabado de ganhar um bebê - literalmente, pois tinham sido presenteados com um menino gracioso de 5 dias de vida e aceitaram adotá-lo. O casal não tinha filhos, já era um casal há muitos anos, e agora tinham um bebê. O que me interessa agora é comentar que o pai me falava que tinha muitas expectativas e dúvidas quanto à criação de seu filho. Sua experiência pessoal, como filho de seus pais fora muito marcante, segundo ele. Seu pai, para que se tenha uma idéia, mantinha sempre pendurado à parede de casa um conjunto de chicote e esporas de vaqueiro, como símbolo de sua autoridade, e, me conta esse pai, chegou a usá-los muitas vezes. Coube a esse meu cliente herdar a véstia, dentre uma família de muitos filhos homens.

Esse meu cliente me comentava sobre como o comportamento de seu saudoso pai influenciava suas decisões acerca dos cuidados desse novo rebento que estava em suas mãos. E que como seria diferente. Longe de ostentar chicote e esporas, pretendia se constituir em um amigo de seu filho, e procuraria trabalhar a autoridade de outra forma.

É interessante como essas coisas ocorrem. Pais dedicados, afetuosos, apaixonados, se envolvem com seu filho e procuram criar um ambiente que seja sensivelmente sustentador do temperamento e da individualidade da criança. À medida em que fazem isto, suas experiências pessoais passam a influenciar suas ações, naturalmente. Selma Fraiberg usa o termo fantasmas da criação para se referir a experiências importantes do passado que dominam - conscientemente ou não - o comportamento dos pais, determinando seus preconceitos e suas ações.

Quando traz à tona sua própria experiência pessoal com seu pai, esse novo pai encara seus fantasmas, e se torna apto a refletir sobre eles, e se apropriar de seu próprio modo de agir diante dos cuidados de seu filho. Mesmo que reproduza - e isto é por vezes inevitável - ações de seus antepassados - esse pai constrói sua muito própria relação com seu menino. Longe de julgar se o avô agiu certo ou errado, pois trata-se de um outro tempo, uma outra ética, uma outra cultura, outros valores, outra educação, coube a mim celebrar a chegada desse novo sujeito, e desse pai em construção.

domingo, 3 de agosto de 2008

O Brincar e o Desenvolvimento Infantil

Uma dica para profissionais e estudantes interessados no desenvolvimento de crianças: O Centro de Referência à Infância, INCERE, em parceria com a clínica Espaço Água, aqui em Fortaleza, estão promovendo um curso sobre O Brincar e o Desenvolvimento Infantil, com discussões, oficinas e intercâmbio de experiências no campo teórico e na prática clínica. O programa vai de 29 de Agosto a 06 de Dezembro de 2008, em cinco módulos.

Muita gente boa está envolvida, incluindo Bruno Guimarães e Patrícia Gadelha (fonoaudiólogos), Karla Oliveira (Pedagoga), Ana Karina Fragoso e André Pontes (Terapeutas Ocupacionais) e Cláudia Jardim (Psicomotricista).

Eu também participo, com minha amiga Fabiana Miranda, psicóloga do INCERE, no primeiro módulo, dias 29 e 30 de agosto próximos. O foco desse primeiro módulo é uma abordagem conceitual introdutória sobre o brincar e o seu lugar no desenvolvimento da criança.

Maiores informações: incere@gmail.com, ou (85) 3247.1620.

A primeira.

Primeira postagem: um dia eu tinha que recomeçar. Em uma viagem decidi retomar esse projeto, que me foi muito prazeiroso enquanto durou, por cerca de um ano, há algum tempo. Pretendo ser-lhe mais fiel, seguindo uma tendência a me manter mais fiel aos projetos pessoais.

Este diário/blog pretende refletir sobre cuidados de crianças e adolescentes, com uma forte inclinação a discutir sobre o desenvolvimento infantil. É um espaço de reflexão da prática, portanto não se propõe a ser muito técnico, mas muito mais subjetivo. Há um explícito corte pessoal, baseado em minhas vivências no atendimento cotidiano de crianças, adolescentes e suas famílias e cuidadores.

Agradeço muitíssimo os comentários, se vierem. Se não vierem, agradeço a visita silente.

Henrique


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