domingo, 28 de dezembro de 2008

Cinco Intenções de Ano-novo

Tá bem, tá bem, eu sei que essas listas de ano-novo estão em baixa, mas é por isso mesmo que eu vou postar a minha - para mim, o ano que começa é uma marca das possibilidades, da esperança, do porvir renovado; é sim um estado de espírito, mas, afinal, não é isso mesmo?

Além do mais, acredito que, para muitos de nós, resoluções de ano-novo são um exercício subconsciente de auto-comiseração: Vou perder peso, significa uma mensagem para si próprio: "Estou gordo"; Vou ligar para meus pais toda semana, pode significar "sou egoísta e ingrato". Então estou me propondo a elaborar minha lista de intenções, não de resoluções, e vou me colocar dentro delas.

Eu sei que sou ambicioso: o gênio-da-lâmpada concedia três desejos, eu trago cinco intenções. Desde que venham, em parte ou no todo, um por mês ou todos de uma vez, eu ficaria feliz se em 2009, os seguintes desejos se realizassem:

Intenção 1: Que as crianças tenham uma idéia do paraíso.

Uma amiga é professora da rede pública municipal de ensino. Ela nos disse há algum tempo que uma menina tinha como desejo provar uma maçã, que achava lindo maçãs, mas nunca tinha as provado. Minha amiga e seus próximos providenciaram isto, e a menina se encantou com o gosto das maçãs, e de outras frutas. Para esta criança, o mundo bom, o mundo possível, o mundo que valha a pena c
onstruir, passou por aquela maçã. Fazer uma criança provar do gosto bom do mundo, isso 
minha amiga vem tentando fazer - não é fácil em algumas circunstâncias, mas é necessário. Desejo que mais crianças tenham esse gosto, e que eu possa de alguma forma ajudar.

Intenção 2: Que as famílias tenham perspectivas.

Acho que as famílias são o núcleo, mesmo. E que, de alguma forma, é o que acontece no(s) núcleo(s) familiar(es) que orienta o 
que somos, o que seremos, o que fazemos e o que faremos. Então, quando as famílias olham pra frente e não vêem futuro, acho que falhamos como sociedade. Cresce o mundo quando há um sopro de perspectiva para as pessoas. Quando um pai e uma mãe dizem para seus filhos que a vida pode ser boa, apesar de tudo. Quando isso falta, quando os pais não 
apontam futuro para os seus, porque eles próprios não se incluem nesse futuro, perdemos. Que as famílias tenham a noção de perspectiva, e que eu possa envolver minha familia em algum 
mecanismo de construção desta noção para outras famílias.

Intenção 3: Que se possa desenvolver a transcendência.

Minha visão de mundo é uma visão atravessada pela moral cristã. Cresci em um ambiente católico, professo esta fé e tento, de algum modo, exercer seus valores. É inevitável que uma lista de intenções como essa considere que há uma necessidade preemente de um resgate de mais destes valores espirituais. Leonardo Boff defende que os homens são seres de enraizamento e de abertura, ou seja, têm raiz e dependem do material e do concreto (a imanência), mas são 
voltados para o infinito, e têm a abertura, a transcendência: os homens são um projeto infinito. Então, que possamos desenvolver nossa transcendência, sem perder a noção de que somos imanentes e dependentes, também. Aliás, uma boa leitura para este período: Tempo de Transcendência, de Leonardo Boff, disponível aqui.

Intenção 4: Que possamos ser mais criativos.

Acho que a criatividade define o humano. O potencial criativo do ser humano é impressionante. Há muito o que possamos fazer para desenvolvê-lo. Acredito que a arte é um bom caminho, defendo-a para nossas crianças. Qualquer forma de arte, qualquer arte. A arte e a cultura nos abrem horizontes. Quero propor mais formas de arte para os meus, e que eu possa também praticar mais arte em minha vida. E que a criatividade tome conta dos ambientes em que convivemos, e que possamos explorar ao máximo nosso potencial de desenvolvimento, e com isso nos reinventarmos e recriarmos nosso futuro.

Intenção 5: Que possamos alcançar um equilíbrio entre o pessoal e o coletivo.
O meu maior desafio em 2009: juntar na balança o ócio e a realidade, o trabalho e o lazer, o pessoal e o coletivo, do privado e do público. Afinal, acho que uma coisa alimenta a outra. É necessário um equilíbrio, sob pena de curto, de corte, de dano. Nossas crianças precisam disto, porque nós precisamos disto. O símbolo aí do lado é o zen, que representa a clarividência, simplicidade e abertura. Esse é o caminho, ser mais simples, mais aberto para as coisas, buscar o centro, o equilíbrio.

Não, amiga e amigo, não sou arauto da auto-ajuda. Nem tenho intenção de convencer ninguém a nada. Essa lista é minha - só que a reflito para você, compartilho-a.



domingo, 14 de dezembro de 2008

E o Papai-Noel?


Alguns pais me perguntam sobre como deveriam tratar o assunto "Papai Noel" com seus filhos. Digo a eles o que disse em uma entrevista à TV Unifor, da minha Universidade:


http://www.unifor.br/oul/unsecure.jsp?MultimidiaPortal2.do?method=abrir&obraCodigo=75981

E concordo também com o que disse o meu colega Prof. de Psicologia João Jaime, também no mesmo vídeo.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Direto ao ponto


Atendo Fábio*, 9 anos, com sua mãe no consultório, em uma situação de urgência. Desde o início da manhã havia apresentado fortes dores de barriga, andava encurvado de tanta dor. Apresentou febre, e tinha uma história de que, no final de semana imediatamente anterior, frequentara um galinheiro (!) em um sítio. Já viu, né? Muita "novidade" junta em uma criança maravilhosa que não costuma fazer charminho. Mandei vir na clínica, assim que pude atender.
Examino o Fábio - realmente abatido - enquanto converso com sua mãe, explico algumas possibilidades, teríamos que afastar alguns quadros mais severos (apendicite, hepatite), solicitei alguns exames, mas conclui que minha principal hipótese é de que se tratasse mesmo de uma enterite viral (uma inflamação simples dos intestinos provocada por um vírus).
Ao final da consulta, pergunto para o Fábio, "e aí, você tem mais alguma dúvida?"
E ele, "Eu vou morrer?"
Dei-me conta que todo o discurso, toda a explicação, tudo o que disse para a mãe teria de ser re-discursado, re-explicado, re-dito para ele - é claro. E que, mais do que nunca, em situações de apreensão como aquela, a criança precisa ser considerada - por pais e profissionais - em discussões ou decisões.
É aquela história: você sabe disso. Você usa isso. Mas, às vezes, você se esquece. Valeu, Fábio - que está bem melhor a essa altura - pela re-lembrança. A gente tem mesmo que estar sempre atento pra essas necessidades de comunicação entre profissional e a criança.

*nome fictício.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

As crianças estão perdendo suas habilidades de brincar?

Li em um artigo científico ontem: Crianças estão perdendo sua criatividade natural a partir de atividades super-estruturadas e brinquedos hi-tech. Puxa.
Segundo os autores, habilidades inatas de brincar são perdidas se as crianças são superdirecionadas a cursos e programação estrita em seus tempos livres. Mesmo em escolas, tal atitude tem impacto quando não há oportunidades de exercitar o ócio criativo, devido à extrema regulamentação do tempo.
O estudo se entitula O Problema das crianças do século XXI (The trouble with 21st century kids), compilado por Peter Smith, professor de Psicologia no Goldsmiths College, Universidade de Londres, e a nutricionista Rachel Biggins. O relatório diz:

"Alguma estruturação do brincar pode ser útil de modo a facilitar o engajamento das crianças, mas isto não deve ir muito longe. Atividades de brincar muito regimentadas podem ter consequências negativas no desenvolvimento social e emocional de uma criança porque tais atividades são demasiadamente organizadas, e quebram a iniciativa e liberdade de escolha da criança. Em contraste, brincadeiras em estilo livre encorajam o criativo e multisensorial desenvolvimento da criança pela sua natural falta de estrutura".Brincadeiras ou jogos com regras, em que é o desfecho que motiva a participação, treinam padrões de pensamento na criança, deixando menos tempo para o pensamento criativo e imaginativo, que aí se estabelece e amadurece".

O relatório adverte para o potencial problema de videogames e televisão: "Apesar de ser dito que existe algum efeito positivo destas atividades, tal qual coordenação mão-olho, existe uma preocupação crescente de que crianças estão gastando cada vez mais tempo em hábitos sedentários que inibem seu bem-estar mental e físico". Os especialistas concordam que programas e brincadeiras pré-programadas monopolizam o cérebro, porque crianças respondem a um cenário construído por alguém e isto parece ter um impacto sobre sua criatividade.
Muito bem. Aparentemente, nada de novo. Isso todo mundo já "sabe". O que traz o tal relatório de diferente, ou importante? Ele consolida evidências de muitos estudos de bom padrão, e aponta uma tendência para este século - que ainda está começando, para uma geração que ainda tem tempo e condições de mudar!
Este é o desafio: reorientar as práticas de brincadeira de nossas crianças, antes que a tendência se materialize...


visitor stats