Além do mais, acredito que, para muitos de nós, resoluções de ano-novo são um exercício subconsciente de auto-comiseração: Vou perder peso, significa uma mensagem para si próprio: "Estou gordo"; Vou ligar para meus pais toda semana, pode significar "sou egoísta e ingrato". Então estou me propondo a elaborar minha lista de intenções, não de resoluções, e vou me colocar dentro delas.
Eu sei que sou ambicioso: o gênio-da-lâmpada concedia três desejos, eu trago cinco intenções. Desde que venham, em parte ou no todo, um por mês ou todos de uma vez, eu ficaria feliz se em 2009, os seguintes desejos se realizassem:
Intenção 1: Que as crianças tenham uma idéia do paraíso.
Uma amiga é professora da rede pública municipal de ensino. Ela nos disse há algum tempo que uma menina tinha como desejo provar uma maçã, que achava lindo maçãs, mas nunca tinha as provado. Minha amiga e seus próximos providenciaram isto, e a menina se encantou com o gosto das maçãs, e de outras frutas. Para esta criança, o mundo bom, o mundo possível, o mundo que valha a pena c
onstruir, passou por aquela maçã. Fazer uma criança provar do gosto bom do mundo, isso
minha amiga vem tentando fazer - não é fácil em algumas circunstâncias, mas é necessário. Desejo que mais crianças tenham esse gosto, e que eu possa de alguma forma ajudar.
Intenção 2: Que as famílias tenham perspectivas.
Acho que as famílias são o núcleo, mesmo. E que, de alguma forma, é o que acontece no(s) núcleo(s) familiar(es) que orienta o
que somos, o que seremos, o que fazemos e o que faremos. Então, quando as famílias olham pra frente e não vêem futuro, acho que falhamos como sociedade. Cresce o mundo quando há um sopro de perspectiva para as pessoas. Quando um pai e uma mãe dizem para seus filhos que a vida pode ser boa, apesar de tudo. Quando isso falta, quando os pais não
apontam futuro para os seus, porque eles próprios não se incluem nesse futuro, perdemos. Que as famílias tenham a noção de perspectiva, e que eu possa envolver minha familia em algum
mecanismo de construção desta noção para outras famílias.
Intenção 3: Que se possa desenvolver a transcendência.
Minha visão de mundo é uma visão atravessada pela moral cristã. Cresci em um ambiente católico, professo esta fé e tento, de algum modo, exercer seus valores. É inevitável que uma lista de intenções como essa considere que há uma necessidade preemente de um resgate de mais destes valores espirituais. Leonardo Boff defende que os homens são seres de enraizamento e de abertura, ou seja, têm raiz e dependem do material e do concreto (a imanência), mas são
voltados para o infinito, e têm a abertura, a transcendência: os homens são um projeto infinito. Então, que possamos desenvolver nossa transcendência, sem perder a noção de que somos imanentes e dependentes, também. Aliás, uma boa leitura para este período: Tempo de Transcendência, de Leonardo Boff, disponível aqui.
Intenção 4: Que possamos ser mais criativos.
Acho que a criatividade define o humano. O potencial criativo do ser humano é impressionante. Há muito o que possamos fazer para desenvolvê-lo. Acredito que a arte é um bom caminho, defendo-a para nossas crianças. Qualquer forma de arte, qualquer arte. A arte e a cultura nos abrem horizontes. Quero propor mais formas de arte para os meus, e que eu possa também praticar mais arte em minha vida. E que a criatividade tome conta dos ambientes em que convivemos, e que possamos explorar ao máximo nosso potencial de desenvolvimento, e com isso nos reinventarmos e recriarmos nosso futuro.
Intenção 5: Que possamos alcançar um equilíbrio entre o pessoal e o coletivo.
O meu maior desafio em 2009: juntar na balança o ócio e a realidade, o trabalho e o lazer, o pessoal e o coletivo, do privado e do público. Afinal, acho que uma coisa alimenta a outra. É necessário um equilíbrio, sob pena de curto, de corte, de dano. Nossas crianças precisam disto, porque nós precisamos disto. O símbolo aí do lado é o zen, que representa a clarividência, simplicidade e abertura. Esse é o caminho, ser mais simples, mais aberto para as coisas, buscar o centro, o equilíbrio.
Não, amiga e amigo, não sou arauto da auto-ajuda. Nem tenho intenção de convencer ninguém a nada. Essa lista é minha - só que a reflito para você, compartilho-a.