sábado, 6 de dezembro de 2008

Direto ao ponto


Atendo Fábio*, 9 anos, com sua mãe no consultório, em uma situação de urgência. Desde o início da manhã havia apresentado fortes dores de barriga, andava encurvado de tanta dor. Apresentou febre, e tinha uma história de que, no final de semana imediatamente anterior, frequentara um galinheiro (!) em um sítio. Já viu, né? Muita "novidade" junta em uma criança maravilhosa que não costuma fazer charminho. Mandei vir na clínica, assim que pude atender.
Examino o Fábio - realmente abatido - enquanto converso com sua mãe, explico algumas possibilidades, teríamos que afastar alguns quadros mais severos (apendicite, hepatite), solicitei alguns exames, mas conclui que minha principal hipótese é de que se tratasse mesmo de uma enterite viral (uma inflamação simples dos intestinos provocada por um vírus).
Ao final da consulta, pergunto para o Fábio, "e aí, você tem mais alguma dúvida?"
E ele, "Eu vou morrer?"
Dei-me conta que todo o discurso, toda a explicação, tudo o que disse para a mãe teria de ser re-discursado, re-explicado, re-dito para ele - é claro. E que, mais do que nunca, em situações de apreensão como aquela, a criança precisa ser considerada - por pais e profissionais - em discussões ou decisões.
É aquela história: você sabe disso. Você usa isso. Mas, às vezes, você se esquece. Valeu, Fábio - que está bem melhor a essa altura - pela re-lembrança. A gente tem mesmo que estar sempre atento pra essas necessidades de comunicação entre profissional e a criança.

*nome fictício.

3 comentários:

Dri_ disse...

Parabéns por tanta delicadeza, respeito e profissionalismo, Dr. Henrique.

Me encantei por uma pediatra que primeiro cumprimentou meu filho, e só depois veio falar comigo. Afinal, era ele o paciente, né? rs


Venho sempre aqui (há pouco tempo, te conheci na Fal Azevedo), pois acho seus posts (que me parecem fragmentos de pensamentos) excelentes.

Parabéns novamente,

Adriane..

Henrique Sá disse...

Olá, Adriane,
Eu também procuro cumprimentar também a criança - mesmo o bebê - antes de seus pais. Até porque normalmente eles adentram o consultório bem antes dos adultos! Obrigado pela visita! Volte sempre!
HS.

Dri_ disse...

rsrsrs é verdade!

O meu bebê (1a9m) recebeu da nutricionista o apelido de "pintinho", porque era aquele cisquinho de gente a perambular pelo consultório rsrsrs



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