quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Relações entre pais e profissionais


Na semana que passou tive a oportunidade de vivenciar uma experiência rara e preciosa para a vida de um profissional: uma devolutiva de um casal acerca de minha conduta profissional. Eu acompanhava este casal e seus filhos há muitos anos, tínhamos uma boa relação, e nos últimos 12 meses esta família estava sendo atendida por outro pediatra.

O dia-a-dia de um pediatra é tão atarantado que um desgarramento desta natureza nem sempre é percebido de forma clara. O convívio deixa de existir, mas é muito difícil para quem atende mais de uma centena de crianças por semana reconhecer que uma em especial deixa de retornar, e não raro a "descoberta" ocorre por acaso, quando outro paciente comenta a situação, quando se encontra o paciente fora do consultório, ou simplesmente quando se apercebe que aquela família deixa de manter contato.

Pois bem: este casal deixou de manter contato por um ano, mas retornou na semana passada. E a conversa que abriu a consulta foi repleta de significado: as dificuldades na sala de espera às vezes congestionada, problemas com horários, desacordos com condutas... Entretanto, os pais relataram que não conseguiram construir um vínculo com outros profissionais - e foram muitos, segundo eles - tão significante quanto aquele que tínhamos, o que os impeliu a retornar à minha clínica.

Apesar de comentar que estava - e estou - muito feliz com o regresso, o que mais me impactou foi a sinceridade e cordialidade do casal em me apontar necessidades de desenvolvimento da clínica e de minha prática, sob seus pontos de vista. A cristalina preocupação com a melhoria do desempenho do profissional, o interesse na mudança e a genuína expressão da crítica construtiva me encantaram e tiveram grande repercussão na forma como encaro o consultório e meus clientes.

Que bom seria se as relações entre os pais e os profissionais de saúde fossem regidas por tais princípios!

3 comentários:

Unknown disse...

Henrique, cheguei aqui por convite e recomendação da Mani, a quem respeito e admiro e de quem gosto muito mais do que ela imagina. E estamos juntos lá no grupo de leitura de O Tempo e o Vento, com a Fal.
Fiquei encantada com sua maneira de encarar e expor as coisas, muito bom mesmo.
Eu sou do Rio e tenho dois filhos adolescentes, um prestes a completar 16 e outro com 14 anos. Devo dizer que a pediatra que os acompanha é a mesma desde que nasceram, e minha relação com ela já extrapolou o consultório há tempos. É maravilhoso e reconfortante para os pais poder construir uma relação de confiança com o pediatra de seus filhos.
Parabéns a você pela sua conduta clínica e pelo blog. Grande abraço.

Henrique Sá disse...

Cara Ana Paula,
Obrigado pelo comentário e pela visita. Volte sempre!
Concordo com você quanto aos vínculos que pais e crianças fazem (ou podem fazer) com seus pediatras. Há um debate sobre a necessidade de um "distanciamento terapêutico" entre profissionais e pacientes, mas acredito que esse "distanciamento" é maleável, ou seja, o profissional teria a capacidade de, quando necessário, se abstrair dos aspectos mais subjetivos da relação para objetivar uma conduta e facilitar a tomada de decisão pela família - especialmente em situações difíceis.
Vou discutir mais sobre isto em outra postagem. Valeu!
HS.

Laura_Diz disse...

Interessante ver alguém que aceita auto crítica e ainda expõe. Legal isto, Abs, Laura



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